quarta-feira, abril 26, 2006

O que deve valer num programa de antena aberta ?

No artigo How to Get on 'Talk of the Nation' o provedor do ouvinte da National Public Radio analisa a forma como funciona o programa "Talk of the Nation" que vive da participação em directo dos ouvintes.
Em directo ou quase... É que , tal como refere Jeffrey A. Dvorkin, existe um pequeno atraso entre o contacto telefónico e a entrada em emissão do ouvinte.

That gap is there in the event that the listener gets on but then wants to talk about something else -- or worse -- so the studio director must be able to terminate the call.

O artigo do provedor foi motivado por questões colocadas pelos ouvintes acerca dos critérios utilizados pelos responsáveis do programa para incluir ou excluir determinada intervenção.

Some exasperated listeners ask me, “What does it take to get on Talk of the Nation?” Their frustration? When they call NPR’s weekday, live national call-in program, their questions or comments are rejected. The studio producers or “screeners” tell them they are “off topic.” Callers are further upset when the screeners end the conversation in an apparently abrupt manner. And that’s when they contact me.

O que se passa no "Talk of the Nation" é que os ouvintes não entram todos em antena. Estão sujeitos a uma filtragem prévia onde é avaliada a pertinência da sua intervenção ou a qualidade da ligação telefónica.

O programa da NPR "Talk of the Nation" maximiza, desta forma, o poder de edição dos jornalistas responsáveis pela emissão, mesmo tratando-se de um directo. É, como o próprio Dvorkin admite, um cenário menos democrático, mas que cria condições para o aparecimento na emissão de contribuições mais válidas (ou pelo menos assim entendidas pelos responsáveis do programa).

A NPR dá prioridade ao que é dito e como é dito. Com esta prática inviabiliza que entrem em antena ouvintes com opiniões menos fundamentadas, que se afastem do tema em debate ou até cuja ligação telefónica não se encontre em boas condições. Todas estas razões são, para os responsáveis do "Talk of the Nation", suficientes para excluir um ouvinte de participar no programa.

Em Portugal, a prática não parece ser esta, pelo menos a avaliar pelas constantes interrupções que os pivots de programas do género são obrigados a fazer durante uma emissão.

No fundo, a questão emergente é a de saber o que deve ser valorizado num programa de informação com participação dos ouvintes: se o que dizem e como dizem ou o seu direito de participar no espaço público ?

Provavelmente ambas, o desafio é encontrar o equilíbrio.

domingo, abril 23, 2006

A rádio e a Internet

Carmen Saiz, num texto de 2002, caracterizava assim o estado da relação entre a Rádio e a Internet em Espanha:

"(...) son pocos los productos innovadores que se difunden por Internet, pues la gran mayoría de los programas son meras cópias de los ya existentes e incluso se simultanean los mismos programas por ambos medios".

Carmen Saiz entende que as emissoras espanholas não retiram da web as potencialidades que ela oferece, e que têm a ver com uma nova realidade imposta por um novo meio de comunicação. Para isso, acrescenta Saiz, "Es necesario contar con un equipo técnico y humano especializado que conoza los nuevos modos productivos del sistema interactivo, lo que supone un salto cualitativo en las rutinas productivas convencionales de la radio analógica".

O salto que a professora espanhola propõe implica que as rádios, no campo da informação, deixem de ver a web como um simples arquivo digital dos programas emitidos via hertziana, útil é certo, mas que ignora as capacidades de interacção e multimediáticas que a Internet possui.

Alguns sites das rádios nacionais, por exemplo, não permitem que o utilizador comente notícias ou contacte com os jornalistas. As notícias disponíveis no site são as mesmas que a rádio emitiu e nalguns casos só com texto (sem som, imagem, links).

Durante as eleições presidenciais de Janeiro, algumas rádios disponibilizaram nos seus sites informação sobre resultados de eleições anteriores. São muitos números que a emissão hertziana não poderia facultar. É um exemplo positivo.

Nos últimos dias, as notícias davam conta da entrada em funções nesta semana do provedor do ouvinte da RDP. À semelhança do que sucede com outros provedores de rádio, o site é uma excelente forma de esclarecer acerca das suas funções e de como os ouvintes podem entrar em contacto com aquela figura. No caso português ainda não encontrei qualquer referência ao facto...

sexta-feira, abril 21, 2006

Rádio portuguesa perdeu 300 mil ouvintes

Um sinal preocupante para a rádio portuguesa que perdeu em relação ao ano passado cerca de 300 mil ouvintes. A informação (via Indústrias Culturais) está disponível no blogue Media Network Weblog e tem como base os dados da Marktest que indicam uma perda de ouvintes de 6,1%, relativamente ao ano passado.

A quebra só não se verifica no caso da Rádio Comercial, cuja audiência cresceu 5,2%, e do renovado Rádio Clube que subiu 3,2%. A Antena 2 também registou uma subida.

O Grupo Renascença - apesar da quebra de 8,1% em relação a 2005 - continua a liderar as audiências de rádio em Portugal: a RFM mantem-se como a estação mais ouvida, com uma audiência acumulada de véspera de 12,4% e o Canal 1 da RR com 9,8%. Seguem-se a Rádio Comercial, Antena 1, TSF e Cidade FM.

Regista-se a perda de ouvintes, significativa, e que deve merecer um olhar mais atento no sentido de perceber as suas causas.

Outros indicadores mostram como a rádio tem deixado de representar para os ouvintes um meio de comunicação de proximidade - uma das suas principais características.

quarta-feira, abril 19, 2006

Provedor do ouvinte inicia funções

O primeiro ombudsman do ouvinte em Portugal assumiu ontem as funções, conjuntamente com Paquete de Oliveira, que assumirá idêntico cargo na RTP.

Durante a cerimónia de tomada de posse, José Nuno Martins deixou algumas ideias que vêm reproduzidas no Diário de Notícias:


"Agora a lei garante ao ouvinte o direito de ouvir bem a rádio pública"

"(...)por quanto tempo mais poderão os operadores privados de radiodifusão continuar a ignorar o cidadão?"

"Os provedores não adiantaram muito sobre o caminho que vão seguir, mas José Nuno Martins admitiu ter dúvidas sobre os "programas chamados interactivos, os fóruns".


Segundo o mesmo jornal, o ministro Augusto Santos Silva desafiou ainda os
"outros a adoptar estes mecanismos, sublinhando que os provedores são instrumentos de auto-regulação da comunicação social".

À consideração da TSF, RR, Rádio Clube ...

terça-feira, abril 18, 2006

O que será do Museu da Rádio ?

O Jornal Público dava conta, ontem, da mudança de instalações do Museu da Rádio. Não haverá grande problema se o que estiver em causa for apenas a mudança de local. Já parece mais preocupante outras informações que indicam que parte do seu riquíssimo acervo possa desaparecer (!!!) ou que a mudança se faça para um espaço mais reduzido, implicando isso uma área menor para a exposição do património existente.

Pela importância que o Museu da Rádio representa para a história deste meio de comunicação social em Portugal e para a cultura nacional justifica-se a preocupação face às informações que têm surgido, aliás igualmente manisfestadas noutros blogues: Indústrias Culturais, Netfm e A Rádio em Portugal .

No blogue Indústrias Culturais, Rogério Santos fala de uma petição disponível no blogue A Minha Rádio mas, pelo menos ontem, não consegui aceder a ela.

sábado, abril 15, 2006

Provedor da RTVE

Nos últimos dias o post É preciso ser jornalista para ser provedor ? recebeu novos comentários. O tema é ainda actual quando se espera pelo início de actividade do provedor do ouvinte da rádio pública portuguesa.

Entretanto, vale a pena passar pelo site da RTVE e conhecer as comunicações e perfil do também recente provedor (iniciou funções em Fevereiro) da televisão e rádio públicas de Espanha. A opção recaiu sobre um único defensor para a televisão e para a rádio e para as áreas da programação e da informação.

Manuel Alonso Erausquin é um antigo jornalista, doutorado em Ciências da Informação e com experiência em várias áreas de trabalho na TVE.

O vídeo da apresentação do provedor pode ser visto aqui

quinta-feira, abril 13, 2006

Ainda há a rádio !!!

Até ao momento não vi na televisão nem li (em jornais ou na Internet) que a escuta de rádio, feita com moderação ou em excesso, pudesse disputar o tempo com a meditação ou oração.
Não sei se o Vaticano se esqueceu da Rádio ou se a rádio é neste particular um caso à parte !!!

Não há Televisão, jornais ou Internet... mas há rádio...Graças a Deus.

quarta-feira, abril 12, 2006

Blogue para jornalistas da NPR

A National Public Radio criou um blogue onde os jornalistas da rádio pública norte-americana podem escrever as suas histórias, opiniões e reflexões que normalmente não chegam aos ouvintes.
O blogue chama-se Mixed Signals.

O provedor da emissora escreve esta semana sobre o assunto:

One of the most interesting and useful developments on NPR’s Web site is the arrival of the NPR blog.

This feature involves an NPR journalist who posts (as often as a dozen times a day) his or her impressions and opinions of what’s going on behind the scenes at NPR News. Included in this are responses, impressions and opinions of listeners to NPR programs and from visitors to the NPR Web site.


Jeffrey A. Dvorkin, o ombudsman da National Public Radio, explica no mesmo artigo porque decidiu rejeitar a criação de um blogue para as funções que desempenha, à semelhança do que sucede com outros provedores, por exemplo na RTVA e no jornal Público.


Vale a pena passar por lá.

terça-feira, abril 11, 2006

À atenção da rádio


Segundo o ofcom a rádio é o meio de comunicação onde o nível de interacção é mais reduzido, pelo menos na realidade britânica.
A notícia vem na newsletter do Obercom que refere que a principal forma de interacção com a rádio é feita através dos sites das estações emissoras.
Os programas de antena aberta, que muito contribuíram para a popularização da rádio, parecem estar a perder terreno, pois de acordo com o estudo da ofcom os contactos por telefone para a rádio aparecem em segundo ou em terceiro lugar, dependendo da faixa etária, quando os ouvintes pretendem interagir com a emissora.
Responder a uma questão ou participar num concurso são as principais razões para os ouvintes estabelecerem interacção digital com a rádio.

Os inquiridos neste estudo responderam ainda em relação aos conteúdos emitidos pela rádio. Neste caso as respostas devem representar um sério alerta para quem faz rádio nos dias de hoje:

As queixas registadas incidem essencialmente no tipo de linguagem utilizada (quer pelo locutor, quer nas letras dos temas), e na fraca qualidade dos conteúdos (intervalos publicitários muito longos, conteúdos liderados pela ditadura das audiências...).

Gráfico retirado do site do Obercom.

quinta-feira, abril 06, 2006

O peso do futebol na rádio

Os jogos de futebol entre o Benfica e o Barcelona centraram as atenções dos jornalistas das rádios TSF, Rádio Renascença e Antena 1 nos dias 28 de Março e 5 de Abril.
Para além das várias horas de emissão especial, nos noticiários o acontecimento serviu de fio condutor para conhecermos a Peña de Barcelona em Lisboa, perceber como vivem portugueses em Barcelona ou como naturais daquela cidade fazem vida na capital portuguesa. Não faltaram as habituais reportagens nas esplanadas ou à porta dos hóteis onde as equipas se encontravam. Comentários de jogadores, treinadores, escritores...

Percentagem de tempo ocupado com informação sobre os jogos entre o Benfica e o Barcelona pelas rádios TSF(36,47%), RR (18,84%) e Antena 1 (17,17%) nos dias 28 de Março e 5 de Abril nos noticiários das 9 e 17 horas:

terça-feira, abril 04, 2006

Onda Livre há 27 anos

O fim do franquismo coincide com o início da luta pela liberalização das ondas em Espanha. O exercício da radiodifusão esteve sempre centralizada no Estado, protegido por leis que favoreciam um cenário de monopólio.
Tratava-se, como descreve Emili Prado (1982), de uma rádio que “entretinha embrutecendo” referindo-se à programação onde sobressaíam programas com música comercial e consultórios para o auditório feminino.

O governo espanhol acabaria por abrir algumas concessões à iniciativa privada, mas tratou-se de uma abertura limitada, uma vez que estas novas emissoras, que aceitaram sem reservas as regras do jogo, eram obrigadas a recorrer à Rádio Nacional de Espanha(RNE), que detinha a exclusividade da informação, para transmitir os noticiários.


Com a morte de Franco dá-se o boom da rádio em território espanhol. O primeiro passo foi dado em Outubro de 1977 com a liberalização da informação radiofónica. Nessa altura, as cadeias privadas passaram a ter liberdade para fazer os seus próprios noticiários sem a obrigação de recorrer à RNE.

Mas a liberalização das ondas em Espanha teve também argumentos de ordem política, nomeadamente pela necessidade de acatar os acordos internacionais de distribuição de frequências, uma medida essencial para Espanha, envolvida que estava no processo de integração europeia.

É neste contexto que aparecem por todo o país no final da década de 70, princípio de 80, várias emissoras livres.

A criação da Ona Lliure (onda Livre) significa um dos marcos decisivos para o florescimento das Rádios Livres em Espanha. A sua primeira emissão aconteceu no dia 4 de Abril de 1979, faz hoje precisamente 27 anos.

A Ona Lliure foi criada por um grupo constituído por estudantes de ciências da informação, ecologistas, homossexuais, feministas e tinha como principal objectivo fundar um movimento pela liberalização das rádios livres em Espanha.

Lia-se num comunicado da Ona Lliure:

"Frente al derecho a ser informados/as debemos plantear como eje central de la Comunicación Alternativa el derecho a informar con entera libertad de nuestra realidad. Las Radios Libres deben ser en ese sentido el instrumento a partir del cual desarrollar la capacidad y necesidad de informar por parte de todo el mundo, de todos los sectores en lucha, de todo el movimiento, potenciando la capacidad de emitir, transformar y criticar".

A primeira emissão foi para o ar no dia 4 de Abril de 1979. Quinze dias mais tarde a Ona Lliure foi mandada encerrar pelo Ministério da Cultura espanhol.
A Ona Lliure abriu as portas ao aparecimento das rádios livres em Espanha e acabou por ser também a alavanca para o aparecimento das Emissoras Municipais (Chaparro, 1995).

domingo, abril 02, 2006

Encontro da rede Radia

Lisboa vai receber o primeiro encontro da rede Radia - uma associação de emissoras de rádio que emitem em FM ou através da Internet - entre os dias 10 e 14 de Abril. Do programa faz parte a exibição de filmes sobre rádio e várias conferências como "Rádios comunitárias, rádios experimentais, rádios arte: que história é esta?" e "Rádio, web, podcast: mutações de um meio de transmissão".

Via Indústrias Culturais.

Ver ainda Rádio Zero.